” Ministro Onyx Lorenzoni- nega influência de filhos de Bolsonaro no governo e diz que relação com Guedes é “maravilhosa

“O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, seja talvez um dos aliados mais antigos do presidente Jair Bolsonaro. Ambos foram deputados federais e embarcaram juntos no projeto para levar o capitão da reserva ao Palácio do Planalto. Diz nutrir uma relação de amizade e confiança com Bolsonaro desde 2003, e se derrama em elogios ao tratar da capacidade do presidente de se comunicar com as pessoas.

Por tudo isso, Onyx atribui a uma suposta “turma do mal” especulações que envolvem seu nome e os de outros integrantes do governo. Entre os rumores, de que ele não teria uma boa relação com o titular da Economia, Paulo Guedes; que seu cargo estaria em risco em uma futura reforma ministerial em 2020; e que os filhos do presidente Bolsonaro exerceriam uma influência excessiva no comando do país.

“Uma coisa é o mundo da opinião, e outra é o dia a dia, a construção técnica, os projetos que o governo tem aqui, e o que o governo pode fazer”, disse o ministro, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo concedida na quinta-feira (19), em Brasília.”

“Na conversa, Onyx fala da possibilidade de o Brasil apresentar a partir de 2020 taxas expressivas de crescimento mesmo que reformas de grande porte desejadas pelo governo deixem de ser aprovadas pelo Congresso. O ministro disse ainda que não planeja deixar o DEM, ao qual é filiado há mais de 20 anos, para ingressar no Aliança pelo Brasil, o novo partido de Bolsonaro: “estou velho para trocar de partido”.

Leia, abaixo, a íntegra da entrevista de Onyx à Gazeta do Povo.

Qual o balanço que o senhor faz do primeiro ano do governo Bolsonaro e da atuação do senhor na Casa Civil?

Onyx: É importante falar de um governo de transformação. Nós recebemos o Brasil com um déficit primário de R$ 139 bilhões, um Estado gigantesco, um aparato burocrático imenso, completamente ideologizado, o Brasil na beirinha do abismo, mais um passinho caía no abismo, como fez a Grécia. E o trabalho que o presidente Bolsonaro fez ao liderar a nossa equipe foi no sentido de fazer o resgate de tudo isso.

Começamos o ano com um desafio gigantesco, que era a reforma da Previdência, para fazer o reequilíbrio fiscal brasileiro. Fizemos a maior reforma previdenciária que um país do mundo ocidental já fez, tanto na sua amplitude, quanto na sua potência fiscal. Nós falamos de uma potência fiscal de R$1,1 trilhão nos primeiros dez anos, e dependendo do desempenho da economia brasileira, isso pode ser multiplicado por dois ou três para os próximos dez anos. A síntese é que o Brasil está fiscalmente resolvido do ponto de vista previdenciário pelos próximos 30 anos. E isso é muito. Porque isso permite ao investidor internacional e ao investidor nacional fazer o que se chama tecnicamente de cálculo econômico. O Brasil passa a ser um país previsível, portanto, o Brasil coloca na equação do cálculo econômico previsibilidade.

Então, o Brasil hoje é um país sólido, um país que cumpre contratos. Nós recuperamos a confiança interna. Se alguém tem alguma dúvida se o brasileiro confia ou não no presidente, confia ou não no governo, ande pelas ruas do Brasil, vá às lojas, vá aos shoppings, vá no supermercado, converse com as pessoas. Ainda está muito longe do que a gente deseja, mas que já melhorou, é evidente. As pessoas estão cada vez tendo mais tranquilidade de andar nas ruas. O ministro Moro faz um trabalho espetacular na área da segurança pública.

E na área econômica, o Brasil, que tinha uma previsão de crescer menos de 0,5%, muito provavelmente cresça nesse ano um pouquinho mais de 1%. A sinalização internacional e nacional é de que o Brasil deva crescer no ano que vem entre 2% e 2,5%. Então, talvez o maior legado desse ano do governo Bolsonaro não é nem os feitos da reforma, da Lei de Liberdade Econômica, que vai nos equiparar às principais nações do mundo, onde diante do agente público o cidadão tem a razão até que o agente público prove o contrário, as questões que nós conseguimos fazer na área econômica, que vão nos propiciar esse crescimento.

Nós aqui, que temos a responsabilidade de coordenar o PPI [Programa de Parcerias e Investimentos], o PPI está fazendo no dia de hoje o 36º leilão. Nos 35 anteriores, o PPI trouxe para o Brasil R$ 442 bilhões de investimentos nos próximos 20 anos, sem falar em valor de imposto e valor de royalties. Por outro lado, são R$ 90 bilhões em outorga, então esse meio trilhão de reais no ano mais difícil, no ano que vem será muito mais do que isso. O Brasil já tem os US$ 10 bilhões da Arábia Saudita, que são R$ 40 bilhões de investimentos para o próximo ano no Brasil.

Então o cenário brasileiro é de recuperação de confiança, de entusiasmo interno e externo com o Brasil, ali na frente recuperamos o grau de investimentos e o Brasil vai ter um ano, se esse ano geramos em torno de 1 milhão de empregos, no ano que vem vamos no mínimo dobrar isso. O Brasil vai para um circulo virtuoso de crescimento da economia.

Tem se falado muito em uma reforma ministerial, que incluiria a Casa Civil. O senhor tem medo de perder o cargo em 2020?

Onyx: Primeiro, isso é uma grande bobagem. O presidente não pensa nisso. Apenas quem fomenta isso é aqueles órgãos de imprensa que têm como missão dificultar o governo Bolsonaro, tipo Folha e Globo. Ninguém está pensando nisso. E a nossa relação aqui, entre nós, dentro do governo, é uma relação de muita união e muita confiança. O time Bolsonaro funciona. Nós, aqui na Casa Civil, tivemos a atribuição de fazer formalmente o centro de governo, a partir de julho desse ano. Nós fizemos 39 reuniões ministeriais, fizemos mais de 300 reuniões setoriais. O que é isso? É um trabalho silencioso, trabalho de unidade da equipe.

E aqui, o presidente, eu, e os demais, só tememos a Deus. Porque se nós temêssemos essas coisas que circulam por aí, a gente não estava aqui, a gente tem consciência de que Deus escolheu o presidente Bolsonaro para colocar aqui, cada um de nós, a gente sabe a missão que a gente tem, que é de resgatar o Brasil, e nosso foco é servir o nosso país. As fofocas de imprensa ficam para aqueles que vivem disso, nós vivemos de trabalho.

O senhor iniciou o ano falando de uma “despetização” no Palácio do Planalto. Como se concluiu esse processo? Foi uma experiência bem-sucedida, na opinião do senhor? Ainda há o que “despetizar”?

Onyx: Aqui foi superbem feita, porque botamos todo mundo para a rua e a gente só trouxe de volta quem, claramente, não tinha nenhuma conexão com o Partido dos Trabalhadores. Até porque o mundo deles é outro, não tem nada a ver com a gente. Então não fazia sentido os brasileiros terem feito uma eleição disruptiva, como fizeram ao eleger o então deputado e capitão Bolsonaro, e a gente manter aqui o status quo vigente.

Então muito do que a gente recolhe das pessoas nas ruas e eu acompanhei o presidente na ida até Bento Gonçalves (RS), no Mercosul, eu vi cenas emocionantes. Funcionários na saída de uma fábrica carregando avental, tirando a gorra, para mandar pra ele. A meninada de verde e amarelo nas esquinas, esperando. As famílias. Gente de todas as idades, ou camiseta amarela, ou pano verde na mão, uma bandeira, um negócio emocionante. Porque há uma conexão entre o presidente, que é humano, que é simples, que quando gosta, gosta, quando não gosta, não gosta, fala direto, fala a língua do povo. Ele tem uma capacidade de se comunicar com as pessoas admirável. E aqui, o que ele faz, ele nos libera sempre nos dando um norte: Deus nos deu essa oportunidade, não podemos perder, temos que trabalhar sério, estamos aqui para servir o Brasil, a gente tem que ser leal ao nosso eleitor. Se você olhar nosso eleitor, é fazer toda a petezada vazar daqui.

Começamos por aqui, como, desde o início, eu caminhei eleitoralmente com ele, falando essa linguagem mais objetiva, de uma amizade que vem lá de 2003. A gente tem uma relação de muita amizade, de muita confiança, é mútua, e o trabalho que a gente desenvolveu ao longo desse período está sintonizado com o que as pessoas queriam.

Quando eu falei, logo no início, eu fui o responsável pela transição. Foi a primeira vez que teve um ministro extraordinário responsável pela transição e era muito importante eu dar o exemplo, então eu dei o exemplo. Eu assumi, no primeiro dia demiti todo mundo, 100% que estava aqui. E aí levamos uns dez dias para recompor e arrumar e hoje funciona perfeitamente bem. Em todas as áreas a gente tem níveis de excelência. Pode comparar com qualquer instituição privada, ninguém nos ganha, não, em termos de velocidade de resposta, capacidade de conhecimento e técnica. A gente tem uma equipe muito nova, muito jovem, e a gente está muito satisfeito.

Em alguns ministérios, as pessoas foram um pouco mais lentas. E outros ministérios têm uma equipe muito grande e muito aparelhada. O PT ficou aqui 16 anos e não brincou em serviço, ele organizou concursos, entre aspas, botou gente lá dentro. Então, a gente gostaria de não ter pessoas que tenham uma conexão, uma ligação e até um compromisso pessoal com a linha ideológica que somos antagônicos. Agora, em uma máquina pública que tem 700 mil funcionários, é difícil, é complicado.

A Veja publicou recentemente que o senhor seria a razão de um descontentamento do ministro Paulo Guedes, por tentar interferir em decisões econômicas. O senhor conversa com o presidente sobre assuntos do Ministério da Economia?

Onyx: Claro que sim. Eu tenho uma relação maravilhosa com o Paulo Guedes. Nós dois somos os dois liberais jurássicos do Brasil, ele do lado econômico e eu do lado político. O Paulo Guedes e eu começamos a falar em liberalismo no Brasil quase 30 anos atrás, a gente era visto como ET, um ser extraterrestre. Nós dizíamos e as pessoas: ‘não, isso nunca vai acontecer no Brasil’, está acontecendo. A gente tem uma afinação, nós somos amigos, muito antes de estarmos no governo, nós construímos um programa de governo juntos, junto com o professor Abraham. Essa cizânia que tentam plantar é uma grande bobagem, não faz nenhum sentido.

Claro que nós discutimos tudo, óbvio. Todos os assuntos são debatidos, até porque, como centro de governo, no padrão da OCDE é aqui, por determinação do presidente, naquela sala ali nós discutimos sim, todos os assuntos. E claro que tem pontos de vista que são divergentes, dentro das próprias equipes. Agora, fazemos um nivelamento, uma uniformização. E quando temos matérias discordantes, por exemplo, isso é levado ao presidente, todos os lados da história, do assunto, para que ele tome sua decisão. Decisão tomada pelo presidente, todo mundo segue. Então a unidade que o time Bolsonaro conseguiu construir é uma coisa muito bonita e quem está de fora desconhece isso. Então ficam plantando coisinhas, notinhas. Não percam nem tempo de ler.

Um comentário constante que se faz sobre o governo é que é ruim a relação entre o Parlamento e o Executivo. Nós, que estamos diariamente no Congresso, ouvimos isso de deputados e senadores. O senhor concorda com essa análise? Qual o peso da Casa Civil neste processo?

Onyx: Bom, eu tenho sete mandatos. É muito raro, vamos lá, são quase 30 anos de mandato consecutivo. Eu nunca vi o Parlamento falar bem de nenhum governo. Porque é da essência, não é por mal, entende? O parlamentar, na verdade, no Brasil, agora com a reforma do pacto federativo vai mudar um pouco. O presidente Bolsonaro está abrindo mão de poder, ele está concedendo um espaço de poder importante para o Parlamento e para estados e municípios, então isso vai mudar com o passar do tempo. Agora, o que ocorre?

Nós vivemos um momento de mudança na relação muito forte. Nós temos que lembrar que desde o [governo] Sarney é presidencialismo de coalizão. E o presidencialismo de coalizão levava à loucura petista, de projeto de poder latino-americano, renascimento da pátria grande, projeto socialista da América para o mundo. E o que eles fizeram? Fizeram o mensalão e o petrolão, que foi o ápice da perda de qualquer referencial ético e moral.”

GAZETA DO POVO



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