ÓBITOS CONTINUAM SENDO FALSIFICADOS: sem resultados de testes, 8 famílias sepultaram seus entes sem velório Santa Catarina

Não houve tempo para dona Jurema Brizola, de 43 anos, despedir-se da filha Andressa Magistrali, de 21 anos. O anúncio da morte ocorreu no fim da manhã da última quarta-feira, 1º de abril, no Hospital Regional São Paulo, em Xanxerê, no Oeste de Santa Catarina.

O corpo foi embalado e encaminhado rapidamente para a funerária, com a recomendação de que o caixão fosse lacrado. Havia suspeita de que a jovem tivesse morrido por Covid-19.

Após o sepultamento, resultado negativo

Só que o resultado do exame de Andressa deu negativo para Covid-19. O resultado foi divulgado na tarde desta sexta-feira (3). A jovem, que convivia com as limitações físicas de uma paralisia cerebral, morreu por insuficiência respiratória aguda.

Os sintomas de febre alta, beirando os 40ºC, e garganta inflamada, iniciaram no sábado (28). Um médico da rede particular a visitou em casa e recomendou, segundo a mãe, sete injeções com antibiótico.

A febre aliviava em alguns momentos, mas voltava a subir quando passava o efeito do medicamento. A garota perdeu o apetite na segunda-feira (30) e, na terça (31), quando foi internada, mal conseguia beber um copo d’água.

Os sintomas fizeram a equipe médica coletar material para o teste de Covid-19. A suspeita de coronavírus, portanto, impediu que o velório fosse conduzido de acordo com os padrões normais. Foram menos de três horas desde a saída do corpo do hospital até o enterro.

“Eu sabia, uma mãe sempre sabe. E agora? Como fica?”, questionou dona Jurema.

Choque e espera

“Foi um choque, a gente nem conseguiu se despedir dela. O caixão ficou lacrado e logo foi para o sepultamento. Fiquei ansiosa pelo resultado desse exame”, ressaltou a mãe de Andressa.

Jurema e a avó da menina, de 80 anos, que moravam com ela, não apresentaram sintomas da Covid-19. Parentes que passaram por Laguna, no litoral Sul de Santa Catarina, e foram os únicos além da família a se aproximarem da jovem, também não teriam apresentado sintomas.

“No hospital, falaram desse suspeito (de coronavírus). Mas de quem ela iria pegar se não saía de casa? Era uma cadeirante, se foi isso a gente também teria, não?”, questionou dona Jurema.

Oito sepultamentos com suspeita de Covid-19

A incerteza da moradora de Xanxerê é a mesma de pelo menos outras sete famílias que enterraram seus entes queridos com suspeita de coronavírus, sem saber o resultado do exame. Diante da incerteza, todos precisaram seguir os protocolos do Ministério da Saúde, e tiveram que abdicar da despedida.

Em contato com serviços funerárias de todas as regiões do Estado, a reportagem encontrou um caso em Joinville, um em Brusque, dois em Blumenau, dois em Chapecó e um em Concórdia. O nd+ optou por não divulgar os nomes das vítimas que não tiveram o resultado do exame confirmado para preservar as famílias.

Norte do Estado

Em Joinville, os protocolos de segurança foram seguidos pelos serviços funerários por causa de uma ligação feita por profissionais do Hospital Unimed. É que uma mulher de 56 anos morreu à 4h50 de 23 de março por choque cardiogênico (insuficiência de irrigação sanguínea). Havia suspeita de Covid-19 em decorrência dos sintomas.

A reportagem entrou em contato com o Hospital Unimed e a Prefeitura de Joinville para saber qual foi o resultado do exame, mas ambos os órgãos não responderam sequer se o resultado ficou pronto. A Secretaria de Estado da Saúde também não informa o resultado de exames em casos suspeitos.

Vale do Itajaí

Em Brusque, um homem de 51 anos morreu por parada cardíaca no Hospital Azambuja. Ele também apresentou os sintomas e teve o corpo lacrado para os procedimentos fúnebres. Até o início da tarde desta sexta-feira (3), o resultado não havia sido comunicado à unidade hospitalar.

Em Blumenau, duas pessoas foram sepultadas sem velório por causa da suspeita de coronavírus. A primeira morte foi a do seu Mauro Barcellos, de 82 anos. Natural de Gaspar, foi internado no Hospital Santa Isabel e morreu por dispinéia em 25 de março.

O resultado do exame dele saiu na semana passada e indicou que Mauro não tinha Covid-19. Como o laudo só ficou pronto dias depois, a família não teve a oportunidade de sepultá-lo dentro dos parâmetros normais.

O segundo sepultamento suspeito em Blumenau foi o de uma idosa de 73 anos. Ela morreu no Hospital Santo Antônio, no dia 29 de março. A princípio, ela já teria problemas pulmonares. O resultado do teste para Covid-19 não havia ficado pronto até a tarde desta sexta-feira (3).

Dois suspeitos não foram testados no Oeste

Em Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, duas pessoas morreram com suspeita de Covid-19 e não foram testadas.

O primeiro caso foi o de um morador de rua de 32 anos que, segundo relatório da Polícia Militar, apresentou sintomas como tosse e febre. Ele chegou a ser internado, mas fugiu da unidade de saúde. Morreu no dia 15 de março. Foi encontrado caído em um terreno baldio.

Segundo um funcionário da funerária que atendeu o caso, uma parente do falecido apresentou prontuário médico dele indicando outros problemas graves de saúde e que podem ter provocado a morte.

A segunda vítima suspeita de Chapecó foi um senhor de 86 anos. Morreu em 24 de março por insuficiência respiratória. Segundo o serviço funerário, servidores do Hospital Regional de São José alertaram para a suspeita – o que levou os profissionais a seguirem os protocolos de sepultamento.

Só que o nome desse idoso não está na lista de casos suspeitos testados no município, segundo informou a Secretaria Municipal de Saúde, o que indica que, possivelmente, não houve coleta.

Na região Oeste foi registrada ainda a morte de um idoso de 60 anos por suspeita de Covid-19. Ele faleceu no dia 31 de março, no Hospital São Francisco, em Concórdia. A causa da morte foi indicada por possível infecção generalizada. Como apresentava sintomas, também foi sepultado dentro dos protocolos do Ministério da Saúde. O resultado não havia sido divulgado até a tarde desta sexta-feira (3).

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